segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Beach Boys - Trama Virtual


Discão do ruído/ mm é o assunto de entrevista com membros da banda
por Claudio Szynkier

Selado pela Open Field e pela Peligro, marcas brasileiras especializadas no que se convencionou chamar de post-rock, Praia é o novo disco dos paranaenses do ruído/mm, ou ruído/ milímetro. Deve ser um dos discos mais comentados do ano no cenário independente do Brasil.

Os sintomas são citações, das mais surreais – exemplo: no site Pitchfork perguntaram para o conhecido "brasileirista" David Byrne se ele conhecia o disco - às mais convencionais, a respeito da qualidade e do rigor deste trabalho.

Abandonando a condição de terceira-pessoa nesta matéria inicialmente não-crítica, pessoalmente eu digo que escuto discos todos os dias, de todos os lugares do mundo, e este aqui é um dos melhores que ouvi nos últimos dois meses. E o que pode ser dito além disso é que a estratégia de, por assim dizer, seqüestro do ouvinte que ele (eles, no caso, a banda) empreende vai muito além do rigor e da “qualidade” simplesmente. ruído/ mm é dessas bandas que parecem conseguir olhar para todo lado, a todo momento, como se estivessem constantemente em um campo aberto de lucidez, climas e imagens: uma praia, talvez.

O disco é divertido acima de tudo, por ser livre (antônimo tradicional de rigor). Passa leve, viaja por trilhas sempre convidativas. É um álbum de rock, de rock extremo e experimental, mas com sanfonas e cadências que lembram uma calma melancolia do cancioneiro regional do Sul. É noite e manhã geladas, às vezes na mesma faixa.

O ruído/ mm aparece em um momento fértil de novas bandas em Curitiba, que, pela entrevista, entendemos que se conhecem e andam meio juntas. Uma união que, ao contrário do que ocorre em outros solos nacionais, desconfia-se, se constrói mais a partir de afinidades, vontades e interesses musicais genuínos (embora, ou justamente por isso, a diversidade predomine); não tanto a partir de militância territorial, ou qualquer coisa dessa categoria. Música 80 por cento, política/ engajamento 20, diríamos assim.

A nova geração de Curitiba parece se definir no próprio disco do ruído/ mm: uma praia, insistindo na funcional figura, aberta de significados e andanças, lugar primordialmente de encontros e naturalmente propenso à criatividade. Mais sobre tudo isso aqui, na entrevista com a banda, representada por André Ramiro e Ricardo Pill. E escute uma parte do material de Praia aqui.

Que álbum exatamente vocês queriam, tinham em mente fazer?
Um disco sincero, com músicas que alimentamos desde nossa infância. Temos todos os tipos de referência para este disco: do erudito ao punk; do metal à world music. Mas tudo isso se mistura inconsciente e espontaneamente de forma etérea. Não é nada como um eletro-tango que mistura dois elementos estabelecidos e totalmente distintos.

Vocês estão sendo citados como a banda que fez um dos melhores discos brasileiros do ano. Isso é uma verdade pra vocês?
Não existe melhor álbum do ano e nunca irá existir. Vocês, mais do que ninguém, sabem que a cada hora tem uma nova música sendo registrada, um novo disco entrando na internet ou sendo prensado. Somos apenas mais um batalhão de infantaria.

Até na Pitchfork saiu algo, não é verdade?
Sim, numa entrevista com o David Byrne. Não sabemos como foi parar lá, mas tá bom demais... Só falta ele ouvir, gostar e depois passar pro Brian Eno.

Está mais fácil ou mais difícil ser uma banda como a de vocês, com alto nível de abstração exigido, nos dias de hoje, no Brasil? E em Curitiba?
Fácil não é, isso com certeza. Somos uma banda que precisa de tempo e de trabalho. Não dá pra fazer uma "Praieira" (música) num final de semana. São meses e meses lapidando para chegarmos a um consenso. Trabalhamos forte para que o disco seja sempre muito parecido com o show, ao menos a estrutura. E isso também precisa de tempo e ensaio. Não é mole, mas é o nosso esporte favorito e fazemos com gosto.

Curitiba ou Brasil, acho que é tudo igual, dentro de suas escalas. Poucos brasileiros gostam de bons sons, mas todos querem algo novo. Qual lado da moeda é o pior?

Que tipo de cena nova é essa que está se estruturando em Curitiba? Tem o Heitor, tem vocês, tem o Stella-Viva... Vocês são tipo amigos, trocam idéia de música?
Temos uma filosofia simples: fortalecer a vila. São tantos grupos interessantes e tão diversificados que a cena tá começando a misturar, virar uma coisa só. Pelo menos para nós do ruído/mm, Heitor e banda Gentileza, Stella Viva, Delta Cockers, Je Rêve de Toi, Wandula, Sick sick Sinners, Oaeoz, Folhetim Urbano, Mordida, Criaturas, Chucrobillyman, Koti e os penitentes, Bad Folks, Sabonetes, Poléxia, Nuvens, Giancarlo Ruffato, Plêiade, Charme Chulo, Copacabana Club, Gengivas Negras, Mecanotremata, Ovos Presley, enfim, citei algumas das bandas de qualidade da cidade.

Ou seja, todo final de semana alguma coisa boa está acontecendo por aqui. Não há do que reclamar. Estamos todos motivados e queremos fazer a coisa toda aquecer de verdade. Nisso, junte a força de alguns bares que estão abrindo espaços que antes não tínhamos, como o Wonka às sextas feiras e, daqui poucos meses, o James bar. Dois ícones da noite abrindo suas portas às bandas daqui. Nada é por acaso. As idéias amadureceram, não existem mais "showzinhos de bar". Todo mundo está produzindo, criando e trabalhando de verdade.

O que vocês esperam fazer daqui em diante com o disco? O que vocês esperam que possa acontecer?
Divulgar os hinos e tocar no Brasil todo. Gravar mais discos. Produzir mais shows aqui na cidade com bandas de fora (vide 2007). Agora, esperar, não esperamos. Estamos trabalhando para não deixar a fogueira apagar. Sabemos do potencial disso tudo, então vamos gravar mais, divulgar mais, conhecer mais gente bacana, antes que paremos de respirar.

Como vocês descrevem, enfim, o disco?
Como uma refilmagem fantasmagórica de coisas muito antigas.

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