segunda-feira, 15 de junho de 2009

Curitiba ficou pequena - Scream & Yell


por Murilo Basso
Quatro anos atrás, o Scream & Yell “visitou” Curitiba e se surpreendeu com uma das cenas mais empolgantes do país. O resultado rendeu um especial publicado primeiramente no Portal Terra, e depois no próprio Scream. O tempo passou e Curitiba continua sendo um dos principais centros criativos do país. Musicalmente falando, é claro.

A cena independente curitibana evoluiu muito nesses últimos anos; talvez o pouco espaço e visibilidade, antes característica marcante seja responsável por esse crescimento: a busca por essa diferenciação nos palcos, e fora deles também, acabou evidenciando o profissionalismo destes músicos; a estrutura cresceu significativamente e hoje Curitiba ficou pequena para tanta banda bacana.

É fácil citar, pelo menos, duas dúzias delas com quem podemos perder algumas horas do nosso dia. Com lançamento do seu primeiro CD previsto para o final de março o Anacrônica faz um som pop que facilmente te fisga e seu potencial para baladas radiofônicas é inegável.

Na estrada de 2004 e com 5 EP’s já lançados o Mordida é irreverente, muito bem humorado e deixa sua proposta bem clara: divirta-se. Já o ruído / mm é no mínimo inusitado; inicialmente você pensa que poderia ter surgido em qualquer outro lugar, menos na “fria, gelada e antipática” capital paranaense.

A Trivolve chama a atenção por sua simplicidade: você tem a impressão que apenas um violão e uma voz seriam suficientes, e neste caso, isso está longe de ser algo negativo. Merecem destaque também o dançante Copacabana Club e seu pop-dançante muito bem feito, a delicadeza poética do Wandula ou ainda a despojada Sabonetes.

Isso tudo sem contar aquelas bandas citadas na reportagem de 2004, gente como o Terminal Guadalupe (que está em estúdio preparando o sucessor do elogiado “A Marcha dos Invisiveis”)¸ a Relespública (que lançou no fim de 2008 um novo álbum), a Pelebrói Não Sei (em período de férias) e o Cores d Flores (com Mariele Loyola à frente). E OAEOZ, a Poléxia e… ok. Vou parar.

Agora, o mais divertido, e acho que você conseguiu perceber é que há um pouco de tudo para todos os gostos - “Um suco de tudo quanto é fruta”, brincou um dos músicos da ruído / mm - e grande parte dentro daquela velha filosofia rocker do “faça você mesmo, do seu jeito e não se complique”.

De qualquer forma você pode andar pela cidade na véspera de um final de semana que com certeza irá ouvir vários comentários do tipo: “Curitiba é tão parada” ou “Aqui não tem nada pra fazer”. Conversinha mole, não acha?
ruído/mm



Antes de tudo é preciso ouvir. E não uma ou duas, mas sim, várias vezes. E mesmo assim você corre o risco de acabar tão perdido quanto no início. Ou pode se surpreender…

O ruído / mm – André Ramiro (guitarra, percussão e escaleta); João Ninguém (guitarra, sintetizadores e acordeom); Ricardo Pill (guitarra e teclado); Giovani Farina (bateria); Rafael Martins (guitarra); Rubens K (baixo) e Sergio liblik (piano e teclado) – sim, sete caras e quatro guitarras, surgiu em 2004.

Nossa conversa começou bem humorada; “Fique tranqüilo, somos bem poéticos”, comenta André. “Eu sei, percebi pelas letras”, respondi. “Veja”, continua, “Ruído é uma referência à mistura de tudo que ouvimos, vemos e somos. É o caos sonoro e impossível que se consiga expressar tais referências de uma só vez. O ‘Por Milímetro’ vem dar ordem a esse caos. Orquestrá-lo de forma a apontar para uma linguagem orgânica, com uma unidade estética singular e coerente”.

Seu som quase indescritível impressiona por sua consistência. Abrindo possibilidades para várias interpretações, e isso, você fará à sua maneira. A ausência de letras desperta várias e distintas sensações. Pela manhã é algo; à noite a sensação pode ser completamente oposta. “Ninguém aqui sabe cantar e, pensa bem, a maioria das bandas possuem letras chulas, por isso são ruins. É muita responsabilidade”, brinca André.

Canções como “A Praia” e “Caixinha de Música” merecem ser ouvidas. “Sanfona” é suave e deixar-se levar por ela é uma experiência muito agradável e as distorções de “Célula Dois” assustam; é possível esperar o inesperado. E então você tem a ligeira impressão de que o mundo está prestes a acabar. Curitiba possui aquela fama de antipática, fria. Então qual a reação a um som normalmente inusitado? “Depende da hora do dia – manhã, tarde ou noite – e do humor de cada um. Muita gente não entende o que fazemos, e isso acontece mesmo com grupos instrumentais”, diz André, ou Pill, ou um dos fantasmas logo atrás.

“A vila é forte”, ouço ao fundo. “Só que quem mora aqui não sabe disso, ou faz pouco caso. Digo isso pelo público e não pelos músicos, porque estes sabem faz muito tempo”, completa alguém. No final de 2008 o grupo lançou seu primeiro álbum (“Praia”; Open Field Records – SP), que fez parte do Top 50 do Prêmio Scream & Yell e foi eleito pela equipe da Trama Virtual um dos melhores trabalhos do ano.

Os próximos passos; “Bem, começou cinza, passou pela praia e terminará despido em alguma estrada do norte da Europa”, ouço. “Uma perna de cada vez, sempre, se precisar, pra frente. Se tiver que voltar, voltamos”, finaliza outra voz. Alguns dias atrás ouvi de um amigo: “Não é para mim e, talvez, não seja para você, mas tem seu valor”. Se você quiser, consegue perceber esse valor, que aqui, vem da criatividade e principalmente do inusitado. Acabou, saio feliz. É bom saber que certas coisas são irreversíveis.

Links:
Myspace: http://www.myspace.com/ruidopormilimetro