sexta-feira, 13 de julho de 2012

Floga-se - Os discos da vida: ruído/mm (por Fernando Augusto Lopes)



"Lê-se, claro, 'ruído por milímetro'. É ruído, mas é milimetricamente colocado, ou milimetricamente pensado.

Os curitibanos da ruido/mm lançaram em 2011 o brilhante “Introdução À Cortina Do Sótão”, disco eleito um dos melhores do ano pela turma do Floga-se, e que explica melhor do que ninguém o que o nome da banda expressa. Denso e pensado, curtido e orquestrado, o disco se tornou uma preciosidade na música nacional.

Antes, a banda já havia lançado o EP 'Série Cinza', em 2004; e 'A Praia', em 2008. Busque os três.

Inventividade. Uma boa amostra, além dos registros oficiais, está na versão de “Índios”, da Legião Urbana, pra Popload Session, recentemente (em julho de 2012). Complexidade, desconstrução. O ruido/mm mostrou como se faz uma cover, a partir dos seus gestos, atos e história.

História que se compreende um tanto aqui, nessa edição de 'Os Discos da Vida'. O quinteto dá amostras do que moldou musicalmente cada um dos integrantes, em discos que ajudaram a moldar o som da própria banda. Aqui está o ruido/mm dissecado, nota a nota, milímetro a milímetro.


ANDRÉ RAMIRO (guitarra)

Calexico – “Aerocalexico” (2001) / “Black Light” (1998)
Calexico lembra deserto, que lembra estrada, que lembra narrativas beats, que lembra a loucura do dia a dia e que libera o pensamento para paisagens longínquas. E definir uma ordem é difícil, porque aqui entrariam Giant Sand, Friends of Dean Martinez e tantos outros discos da vida.

Silver Jews – “Natural Bridge” (1996)
David Berman, Heron Banach, Ricardo Oliveira, Felipe Luiz, Vinicius Grazia, Fabiano Gordines etc. etc. etc. Silver Jews colocou todo esse povo em um mesmo navio, com destino ainda desconhecido.

John Coltrane – “Olé Coltrane” (1962)
Aqui descobri que jazz é rock e rock é espelho da magia do jazz ao mesmo tempo que o jazz é uma lâmina de rock que no fundo é tudo a mesma coisa contada em diferentes línguas.

Dinosaur Jr. – “You’re Living All Over Me” (1987)
Disco de cabeceira, junto com tantos do Sonic Youth, Pavement, Yo La Tengo, Radiohead etc. Difícil deixar passar uma banda que possua tamanha influência guitarrística, já que a adolescência era dominada pelos solos de Tony Iommi, Dave Murray, Adrian Smith, John Christ e assim vai. Mascis é alta montanha.

Godspeed You! Black Emperor – “Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven” (2000)
Este disco dominou meus ouvidos por um bom tempo (e ainda domina). Ouvi-lo durante uma viagem de trem, entre Londres e Paris, talvez tenha sido um dos pontos mágicos da trip.


ALEXANDRE LIBLIK (piano, teclado e escaleta)

Radiohead – “Ok Computer” (1997)
Este é óbvio, mas foi o disco que mais me estimulou a trabalhar com música. Aprendi aqui que é possível falar em arte e música “pop”.

The Beatles – “1962-1966″ / “1967-1970″ (1973)
Estas coletâneas foram a base da minha audição de criança. Aprendi a ouvir música cantando Beatles. Pra uns, tinha o Balão Mágico. Para mim, eram os Beatles.

Grandaddy – “The Sophtware Slump” (2000)
Poucos são os discos mais atuais que mexem comigo. Este do Grandaddy, rodou muito no meu toca-discos. Aliás, gosto demais de todos os discos deles.

Glenn Gould – “The Goldberg Variations” (1955)
Para quem acha que música clássica é chato, deveria ouvir o pianista mais rock and roll de todos. Ouvir Gould é um problema, pois leva a um desânimo sobre a capacidade real de se tocar qualquer coisa ao se comparar com o louco.

Celibidache – “Münchner Philharmoniker – Schumann: Symphony No. 2″ (1993)
O maior regente do século tem versões memoráveis de diversas peças; suas sinfonias de Brahms por exemplo, são inigualáveis. No caso, esta sinfonia de Schumann é pouco lembrada e tida como obra menor pelos críticos em geral. Após ouvir a versão de “Celi”, fui invadido pela sensação do sublime.

RICARDO PILL (guitarra)

Miles Davis – “Sketches Of Spain” (1960)
Miles e Gil Evans trabalhando juntos, ambos no auge, em um conceito cool etéreo da música hispânica.

Van Morrison – “Astral Weeks” (1968) / “Moondance” (1970)
Fenomenologia em puro estado. Vibrante e triste. Misterioso, cultuado e indecifrável até certo ponto.

Pixies – “Doolitle” (1989)
Faço parte da legião doente por Pixies. Uma anomalia maravilhosa dentro do rock, desde a música até o jeito que as pessoas eram e se vestiam. Letras raras em composições extremamente pop.

Silver Jews – ” The Natural Brigde” (1996) / “American Water” (1998) / “Bright Flight” (2001)Porque quando ouvi estavam todos misturados numa coletânea. Um poeta absurdo, que toma a música como pano de fundo para suas declamações… E as músicas são ótimas. Noites e noites em que eu ouvia Silver no quarto e o teto virava uma tela de cinema.

Radiohead – “Hail To The Thief” (1997)
O disco que tem mais músicas, o mais rápido de fazer, com menos reinvenções estéticas dentro da banda… Estão lá fazendo o que aprenderam desde o começo. Também acho que são as melhores letras…

RAFAEL PANKE (baixo)
“Em ordem cronológica inversa”.

Flotation Toy Warning – “Popstar Researching Oblivion” (2004)
Paisagens distantes, argonautas oníricos e realismo fantástico.

Belle And Sebastian – “If You’re Feeling Sinister” (1996)
And then quiet was the new loud.

dEUS – “In A Bar, Under The Sea” (1996)
Porque eu tinha que escolher um só…

Pale Saints – “Slow Buildings” (1994)
Marca de uma fase bem sinestésica da vida.

David Bowie – “The Man Who Sold The World” (1970)
Nosso anunnaki favorito!

GIOVANI FARINA (bateria)

The Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
“Festinha” total, alegria pura, pegando a gata pra passear numa tarde ensolarada…

Sonic Youth – “Murray Street” (2002)
Longas caminhadas pelas ruas de seu bairro, pássaros a cantar…

Pink Floyd – “Piper At The Gates Of Dawn” (1967)
Lembro de… Esqueci.

John Coltrane – “Live At Birdland” (1963)
No meio da floresta, cai a chuva, vem aquele cheiro de vida.

Jorge Ben – “A Tábua De Esmeralda” (2002)
Um sorvete em dias quentes ou um pulo em uma cachoeira."

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