quinta-feira, 23 de julho de 2009

Festival volta mais independente

Na 7.ª edição do Rock de Inverno, que começa hoje e segue até sábado, Fellini é uma das bandas convidadas - por Cristiano Castilho - Gazeta do Povo

O evento que surgiu da paixão de dois jornalistas pela música ganha, nesta edição, talvez o seu maior reconhecimento. A partir de hoje, 14 bandas independentes voltam a reclamar seu lugar em Curitiba com o Rock de Inverno 7, promovido pelos jornalistas Adriane Perin e Ivan Santos. Serão dez grupos paranaenses, um brasiliense e três paulistas. Dentre eles a cultuada banda Fellini, símbolo da independência musical brasileira.

Ausente do calendário musical por dois anos – a última edição havia sido em 2006 –, o Rock de Inverno volta com mais independência nos palcos do que fora dele. O evento, criado em 2000, é resultado do interesse comum de Adriane e Santos. No início da década, os dois bancavam tudo. Pelo primeiro festival, no Circus Bar, passaram bandas como Zigurate e OAEOZ, cofundada por Santos. “O conceito era apresentar uma nova safra de bandas e inseri-las no circuito independente nacional que começava a ficar forte”, conta Adriane.

Os fatores responsáveis pela ausência de rock no inverno dos anos passados estão relacionados à falta de apoio e à importância dada às apresentações das bandas convidadas.

“É sempre complicado conseguir apoio de instituições privadas. Eu e o Ivan nos virávamos para conseguir tudo sozinhos. Nós não somos produtores profissionais, mas gostamos muito do que fazemos”, diz Adriane.

Pela primeira vez, o Rock de Inverno irá pagar um cachê – “uma ajuda de custo”– para as bandas participantes. O evento tem o patrocínio do Fundo Municipal de Cultura da Fundação Cultural de Curitiba.

A curadoria do evento é feita de forma natural por Santos e Adriane, antenados no cenário independente que borbulha país afora. Não há inscrições formais, embora muitas bandas procurem os “produtores”, seja para mostrar o trabalho ou conseguir uma vaga no festival. “Estamos ouvindo essas bandas o tempo todo. Escolhemos as que a gente considera bacanas e que têm importância na cena”, diz Adriane.

Além de nove grupos curitibanos que já têm nome conhecido na cena local e um de Umuarama – confira as bandas no quadro ao lado – estão no line-up a brasiliense Beto Só e as paulistas Lestics, Fellini e 3 Hombres. Esta, guarda uma história que reflete o espírito de comunhão que gira em torno do Rock de Inverno. Na primeira edição do festival, Celso Pucci era um dos jornalistas convidados. Trabalhava na revista Bizz e escreveu resenhas sobre os shows para o jornal O Estado de S.Paulo. Também músico, Pucci fundou a 3 Hombres em 1987. “Algumas bandas dos anos 1980 foram muito importantes para nós. Estávamos mantendo contato com o Pucci, e aí ele comentou sobre a Fellini. Disseram para fazer nossa proposta. E deu muito certo”, comemora Adriane.

Retorno indie e calculado

Que fãs da banda Fellini não se animem muito. O grupo paulista, influência fortíssima no rock brasileiro dos anos 1980, está de volta, sim, mas só para dois shows em comemoração aos 25 anos de carreira. O primeiro foi on­­tem, no Studio SP, em São Paulo. E o segundo é no próximo sábado, no Rock de Inverno, em Cu­­ritiba.

“Foi meio por acaso. Tivemos o contato do Rock de Inverno e o pessoal se interessou. Dependia de muitos fatores, mas rolou. E tem tudo a ver com o espírito do festival”, diz Cadão Volpato (voz e gaita). A Fellini chega originalmente, também com Ricardo Salvagni (baixo), Jayr Marcos (guitarra e vocais), Clayton Martin (baterista) e Thomas Pappon (guitarra e vocais).

O grupo não tocava junto desde 2003, quando se apresentou no Tim Festival. Em dez anos, foram só quatro shows, em rápidos reencontros – Pappon vive em Londres há mais de 20 anos.

“Estamos em uma espécie de ápice da performance”, brinca Volpato. Se no show em 2003 a base foi mais “bossa”, com violões e percussão, os curitibanos deverão presenciar uma apresentação roqueira com duas guitarras, baixo e bateria.

O repertório será baseado nas escolhas feitas pelos fãs na internet e terá duas surpresas. A primeira e a última música do show, revela Volpato, só foram tocadas em público uma única vez. E, aos músicos independentes de plantão, um recado de quem conhece muito os palcos em que pisa. “Acho que fizemos um trabalho decente e ferrenhamente independente. Isso foi salutar do ponto de vista moral, mas não financeiro. Viver de música no Brasil é quase impossível. E, se há sucesso e gravadora, a decadência é irremediável”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário