sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Viagem ao inferno - Gazeta do Povo

Quatro bandas curitibanas “invadem” São Paulo e shows demonstram a força do rock local, que vai do new wave ao experimental
por Cristiano Castilho
foto de Diego CWB
O número 501 da Rua Augusta, em São Paulo, nunca foi tão curitibano. Diante do palco, foi ponto de encontro de alguns, que viajaram 400 km até capital paulista para acompanhar de perto um dos grandes momentos da nova – e forte – safra de bandas de Curitiba. Sobre ele, uma amostra auto-explicativa da cena paranaense: ruído/mm, Heitor & Banda Gentileza, Sabonetes e Copacana Club. As diferenças de sonoridade entre os grupos funcionaram como prova inquestionável do bom momento do rock na cidade da Relespública e como leque de opções para o bom público que compareceu ao Inferno Club na noite da última sexta-feira.

A primeira edição do “Curitiba Vai Pro Inferno” levou cerca de 400 pessoas ao Inferno, bar que já recebeu tanto bandas como a cultuada Hurtmold (SP) e a californiana Knights of the New Cruzade, como bons exemplos atuais do rock nacional – Móveis Coloniais de Acaju (DF) e Vanguart (MT). E a invasão curitibana terá novos capítulos. Outros eventos com bandas da cidade devem ocorrer ainda neste ano.

Em ação

Já era uma hora da manhã de sábado quando ruído/mm soou. O septeto colhe os frutos do lançamento do EP Praia (Open Field/Peligro Discos) – lançado em setembro do ano passado, está entre os dez melhores de 2008 segundo o site TramaVirtual.

“Valsa dos Desertores” abriu o set e a viagem musical. Com influências diretas de Mogwai – passando por Yo La Tengo e Debussy – baixo, bateria, escaleta e sanfona colorem o peso de quatro guitarras, criando uma rede de sons viscerais que ora são drama, ora explosão.

Feitos os ajustes necessários depois da primeira música, o grupo valeu-se da boa estrutura técnica do Inferno, ao construir suas camadas melódicas de maneira a promover olhares de curiosidade em parte do público. A antiga “Praieira” e “Baixo e Guitarra” finalizaram a apresentação de 43 minutos, instigante para quem não conhecia o som instrumental do grupo e satisfatória para quem acompanha a trajetória do ruído/mm, formação das mais originais que se aproxima da consolidação.

Três minutos depois das duas horas da manhã, um sexteto ganha o palco. Heitor & Banda Gentileza valem-se das mesclas sonoras – de Jorge Ben a Gogol Bordello –, da inventividade instrumental – utilizam com bom senso um tanque de lavar roupas, um cassiotone, uma concertina e um violino – e principalmente das letras bem trabalhadas de Heitor Humberto, frontman do grupo criado há quatro anos.

“Pseudo Eu” abriu o show e promoveu coro no refrão filosófico à la Tom Zé (“Eu sou o meu pseudo eu”). “Sintonia” deixou clara a evolução do grupo, principalmente nos metais de Artur Lipori (trompete) e Tetê Fontoura (sax), agora parte fundamental da composição samba-rock.

“É o show mais importante da nossa carreira pela repercussão que já teve e pelo que ainda pode vir. Não é a prova definitiva de que a cena em Curitiba está forte, mas é um bom indício de que fazer algo diferente, criativo e com profissionalismo dá certo”, disse Humberto, horas antes de subir ao palco.

Durante o show ainda houve pitadas-deboche de Reginaldo Rossi e Ricky Martin.

O bem-humorado grupo entra em estúdio no segundo semestre para gravar seu primeiro álbum. O produtor foi escolhido a dedo: Plínio Profeta, vencedor de dois prêmios com a trilha de Feliz Natal (2009), filme de Selton Mello, e de um Grammy latino com a produção de Falange Canibal (2002), disco de Lenine.

Por 40 minutos o pop-rock dançante reinou no Inferno. A banda Sabonetes destilou suas músicas do EP Descontrolada e construiu uma pequena pista de dança em frente ao palco. Franz Ferdinand e Bloc Party fazem parte das principais referências do quarteto, que também prepara disco para este ano. “É meio que um carma. Temos que gravar nosso primeiro disco e começamos na metade de fevereiro”, contou Artur Roman, guitarrista e principal vocalista do grupo. “O disco terá 11 faixas e será produzido por Tomás Magno”, revelou. No portfólio, Magno tem discos de Skank, Detonautas e Barão Vermelho.

A festa na pista teve seu auge logo depois das quatro horas da manhã. A apressadinha Copacana Club – fez o primeiro show em dezembro de 2007 e já está entre as mais badaladas da cidade – finalizou a invasão curitibana com um rock urgente e contagiante, que lembra Clap Your Hands Say Yeah e The Rapture e o que há de bom em Cansei de Ser Sexy.

King of the Night, EP lançado virtualmente no ano passado, ganhou adoração de fãs e foi responsável pelo sucesso rápido que ainda assusta a vocalista Camila Cornelsen. “Deve ser o maior público que o Copacabana já viu”, disse Camila, que, no palco, é atração inquestionável. Utiliza dança e pulos para construir uma performance cativante logo no primeiro contato.

Just Do It, música que nasceu hit, levou Camila ao meio do público que permanecia no Inferno mesmo com o sol a caminho do lado de fora: foi o fim de uma festa curitibana em solo paulista.

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