quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Festival Curitiba vai pro Inferno - review

A música independente nacional está em fase frutífera, tanto por parte de bandas, quanto gestores, apoiadores e iniciativas. Grandes revelações e inúmeros coletivos surgiram em 2008, bandas promissoras atingiram a maturidade, shows memoráveis aconteceram país adentro e o próprio Banana Mecânica passa agora por uma nova fase. Este ano promete. 


Curitiba vai para o Inferno veio como uma boa abertura de 2009. A Agência Alavanca se mostra forte como um grande meio de articulação da cena: lotou o Inferno Club com público diversificado, trouxe duas bandas do hype de Curitiba a São Paulo, deu abertura para outras duas promissoras em fase de crescimento, e mobilizou até mesmo grandes veículos para o festival. O recorte do evento foi simples e as bandas, no geral, cruas. Ainda assim, serviu para mostrar o espaço que há para novas iniciativas e para se fortalecerem os movimentos colaborativas pelo Brasil.


Ruído/mm


Como abertura de uma noite pop, o Ruído por Milímetro quiçá foi mal colocado.  É instrumental, experimental, com pé no rock progressivo – tudo para dispersar um público pronto para bandas cancioneiras, melosas e/ou da frente poperô (Lucio Ribeiro estava lá). 


No entanto, a qualidade do show veio a calhar. Se argumentamos cá, ano passado, que Macaco Bong se assemelha a um diálogo entediante, o Ruído ensina. O som é expansivo, mas bem delineado. A nota de um integrante dá vazão ao acorde de outro, e assim começa uma conversa em que cada um sabe criar, argumentar, responder e enfim pontuar. 


Não se limitam a uma só vertente instrumental (esse pé no progressivo), e sentimos diferentes influências (até mesmo metais caipiras) em diferentes pontos da conversa, como parábolas.  Uma banda que tem ainda muito que buscar para firmar sua identidade, mostra estar ciente disso e caminha pela trilha certa.



Heitor & Banda Gentileza


Da moda de fazer modinhas. Pélico, Tatá Aeroplano, Rafael Castro, Numismata, Do Amor - a música cafona aparece como uma das vertentes mais fortes a marcar 2009, e é nessa frente que vem a Banda Gentileza, representando Curitiba, destaque da noite. 


Canções, é o que Heitor sabe fazer, de valsinhas, tangos, baião a música caipira. Nesta sexta-feira, os músicos da Gentileza mostraram que dominam a arte de fazer música pop, sem seguir fórmulas pré-estabelecidas. Inclusive as fórmulas próprias. No concerto, recriavam-se a cada canção, fosse pela variação rítmica, fosse pela constante troca de instrumentos entre os integrantes.


Junto ao Ruído, chegou como banda em processo de evolução, de firmamento de uma identidade própria, e merece maior apoio de mídia e público. Os metais deram alegria e potência ao som, mas algumas poucas vezes entraram em descompasso, pelo menos enquanto o som ainda não estava redondo nos monitores. Não pecaram em qualidade, o descompasso representa mais uma insegurança latente do que qualquer defeito propriamente dito. O cover de Michael Jackson, diga-se de passagem, chamando o público no meio do show, poderia ser descartado pela banda para impor melhor seu próprio espaço, deveras promissor.



Sabonetes


Cai a hombridade, mas a noite prossegue brega. Desta vez com os Sabonetes. Músicas pop medianas que se dividem entre (1) candidatas a novo hit do verão e (2) bases pop-rock extrapolando os limites do melodrama (leia-se “emo”), se é que isso é lá uma divisão.


Não chegam a ofender, tampouco agradam. Uma banda mediana, de fato, com potencial para crescer país afora como boyband simpática.



Copacabana Club


A fórmula que deu certo em 2007. Banda eletrônica, com mulher nos vocais e exacerbada influência dos anos 80, seja no som, seja no visual. Cada músico executa devidamente seu instrumento, sem inovações. O som é enxuto e faz o público dançar. Não podemos deixar de sentir que o Copacabana Club não vai muito além da sombra de Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê.



Luis Fernando Santos

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Stephanie Fernandes 

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