"Banda curitibana que desafia ouvidos acomodados, ruído/mm completa dez anos de estrada com uma série de shows que revive seus três discos
Antes dos shows do ruído/mm, é comum que os desavisados se surpreendam com a quantidade de pedais e com a qualidade dos instrumentos que a banda utiliza. Durante as apresentações, gritos tribais e movimentos descontrolados do corpo podem surgir também, sem avisar, tanto por parte do grupo quanto do público. E, depois de tudo, o sinal de que a apresentação do quinteto curitibano foi algo entre uma viagem espacial e uma catarse terrena, pode ser verificado na réstia de barulho que persiste e teima em vencer o silêncio. “Acabamos de ensaiar e o ouvido está zzxxxxxZZxVtrrrrbbbzzzzzzzzzzzzzzxxxssss”, disse André Ramiro, guitarrista do grupo que está comemorando dez anos de estrada com uma trinca de shows “temáticos” em Curitiba. O próximo será neste sábado, no 92 Graus, e irá contemplar o repertório do disco série cinza, o primeiro do grupo, lançado em 2004.
Não seria exagero dizer que o som do ruído/mm é muito curitibano, já que mescla silêncio e barulho, afago e porrada, introspecção e loucura. São características do subgênero post-rock, que acompanha a banda desde sempre, e que surgiu meio sem querer. “Os primeiros shows eram desorganizados e barulhentos, mas tinham toda uma energia envolvida, muito verdadeira. Eles faziam experimentalismo sem querer. Há quem diga que faziam post-rock sem que tivessem ouvido uma banda de post-rock até então”, conta Ramiro, que entrou para o ruído em 2004, depois de acompanhar alguns shows da banda e “ficar fã dos caras”, que na época eram John XXIII, Pill, Felipe Luiz e Dudu.
Exterminador do Futuro
No início da década passada, havia um palco no Shopping Estação, quase em frente à praça de alimentação. Foi ali, depois da pré-estreia do filme Exterminador do Futuro 3, que a banda se apresentou pela primeira vez. Para susto de muita gente. “Alguns pararam pra ver, mas acho que a maioria do povo saiu correndo”, atesta o guitarrista Pill, único membro-fundador ainda em atividade no ruído. Na mesma noite, um jornalista disse à banda que o som era parecido com o que fazem os nova-iorquinos do Helmet – cuja sonoridade pode ser definida como post-hardcore. Alguns dias depois, o grupo tocou no antigo Bar do Salim, junto com a extinta Lonely Nerds’ Songbox. E tudo começou pra valer, apesar de a sonoridade do ruído exigir um punhado de dedicação e atenção.
“Somos como trilhas sonoras, basta se deixar levar”, compara Ramiro. “Desde o começo, nos saudavam por inventar tudo aquilo na hora. Quando explicávamos que não tinha nada de improviso e aquilo tudo era ensaiado, aí sim confirmavam que éramos todos loucos mesmo”, conta Pill.
Depois de dez anos de palco e principalmente após o lançamento de introdução à cortina do sótão (2011), cujo show ocorreu no último dia 1,°, da aproximação com o selo Sinewave, e da gravação da Popload Session em 2012 (recriaram de forma magistral a música “Índios”, da Legião Urbana), o ruído/mm se tornou reconhecido e respeitado. É com esse repertório que André Ramiro não titubeia ao comentar sobre a cena curitibana. “Nada mudou. Temos várias bandas boas e promissoras, alguns bares que ajudam e outros que atrapalham, algumas pessoas que gostam das bandas de verdade e outras que só fazem tipo. A cidade ainda tem jeito de interior e nós estamos mais velhos.”
Para Pill, os blogueiros independentes, o público – “curioso, aberto, atento” –, os pequenos produtores de festivais, shows, programas de rádio, desenhistas, roteiristas e “sonhadores de plantão” dão uma mãozinha e motivam as bandas a seguir em frente.
Mas, se olhar para o passado é ter a certeza de que pouca coisa mudou, para o futuro a banda já tem uma previsão do que pretende fazer, levando-se em conta suas composições complexas e a vida, que pode ir do barulho ao silêncio em uma pisada de pedal. “Não ir para um hospício”, brinca Ramiro.
Futuro
Banda vai “sumir” para gravar novo álbum, que precisa de apoio para sair
Aproveite os últimos shows do ruído/mm. Quem avisa é a própria banda, que vai se retirar depois da apresentação do dia 23 para compor um novo disco, o quarto da carreira. “Vamos sumir o máximo que der. Espero estar mais tempo em Curitiba do que nos últimos dois anos”, diz o guitarrista André Ramiro, que mora no Rio de Janeiro. Uma dica para o novo álbum: “Talvez a alma esteja mais rocker e o elo experimental tenda a retornar”, conta. Mas há um porém. O disco foi aprovado pela Lei de Mecenato da Fundação Cultural de Curitiba. A Caixa Econômica financiou 50% do disco e a banda, agora, procura alguém para investir os outros 50%. “Sem estarmos com 100% da captação não há como iniciarmos os trabalhos, então a coisa está urgente neste momento,” avisa Ramiro.
Shows
série cinza:
92 Graus (Av. Manoel Ribas, 108), (41) 3045-0764. Dia 9, às 22 horas. R$ 15.
praia:
Ruínas de São Francisco. Dia 23 às 16 horas. Entrada franca.
Os discos estão disponíveis para download gratuito no site
www.ruidopormilimetro.com"