domingo, 29 de março de 2009

Guizado, ruído/mm e Cérebro Eletrônico



Após breve recesso, a banda liderada pelo trompetista Guilherme Mendonça volta à turnê do álbum Punx em abril. O primeiro show da retomada acontece no próximo dia 4 (sábado) no John Bull Music Hall, em Curitiba.

Sua estreia na capital paranaense será em noite de gala, que além do Guizado, terá apresentações do septeto instrumental curitibano ruído/mm e do combo psicotropicalista Cérebro Eletrônico, de São Paulo.

Guilherme chega a cidade acompanhado pelo baterista Curumin, pelos músicos Regis Damasceno e Rian Batista, respectivamente guitarrista e baixista do Cidadão Instigado, e por Lucio Maia, guitarrista da Nação Zumbi.

Além dos petardos instrumentais do elogiado debute, lançado ano passado, o grupo adianta faixas do segundo CD (algumas com vocais), que deve sair ainda este ano.

O Guizado também é atração do SESC São José dos Campos (8 de abril) e do Auditório Ibirapuera (31 de maio), em São Paulo. Mencionaremos estes shows em futuras notas.

Guizado no John Bull Music Hall
Com Cérebro Eletrônico e ruído/mm
Sábado, 4 de abril, a partir das 22h
Rua Engenheiro Rebouças, 1645 - Rebouças - Curitiba, PR
R$ 40 (estudante paga meia-entrada)
(41) 3252-0706

terça-feira, 24 de março de 2009

Coletânea Dis # 1


RELEASE escrito por Alex Antunes (Rolling Stone)

DIS#1 é o primeiro de uma série – uma publicação que reúne diversos artistas na área das artes plásticas, gráficas e fotografia a bandas de música contemporânea (neste volume, Ruído/mm de Curitiba, Constantina de Belo Horizonte, Fóssil de Fortaleza e Labirinto de São Paulo). Mas esse lindo CD-livrinho é mais intrigante do que isso – ele é um sintoma de algo maior e importante.

Há uma nova sensibilidade artística no ar. Pode parecer algo pomposo ou exagerado de se dizer, mas uma simples observação na produção de (certos) jovens artistas, alguns deles presentes neste DIS#1, mostra a retomada de uma inteligência e um vigor pop que não se via desde o final dos anos 70. E “pop” aí não vai no sentido vulgar de “comercial”, mas naquele sentido original dos anos 60: a pop art como uma interface entre a produção cultural voltada para o consumo de massa e a própria crítica desse consumo; Andy Warhol e os Beatles seriam os exemplos mais notáveis desse jogo duplo.

Ao longo dos anos 70, a ruptura da dicotomia entre comercial e experimental – ou “alta” e “baixa” cultura – foi apropriada por músicos como o Roxy Music e o Kraftwerk. Nos 80, a geração pós-graffiti de Basquiat e Keith Haring já vivia essa saudável “indiferenciação” nas artes visuais, e é nesse ambiente que vivemos agora.

A street art, com seus pôsteres e adesivos, a toy art, os quadrinhos, os livros de arte e o pós-rock são exatamente a especialidade da casa Dissenso, misto de loja, selo musical, estúdio e núcleo propulsor de idéias. Já trabalhando em parceria com artistas de várias linguagens, produzindo desde impressões em silk screen à gravações sonoras e encontros festivos, a Dissenso está se transformando num pólo de convergência e realização.

Eles escolheram um mote para os músicos e ilustradores participantes desta edição – o termo “etéreo”. É amplo o suficiente para permitir diferentes viagens, mas ao mesmo tempo sugere uma certa unidade conceitual para o projeto. As quatro bandas, nesta edição, são instrumentais. Ou seja, as vozes, quando aparecem, fazem apenas vocalizações dentro dos arranjos. Mais ásperos no caso do Fóssil, mais abstratos no do Constantina, mais climáticos no de Ruído/mm e Labirinto, mas sempre muito envolventes, expandindo a linguagem do rock para universos inusitados.

O sexteto Ruído/mm (ruído por milímetro) se define como "uma teia de sonoridades exploradas à exaustão", utilizando instrumentos como acordeon, escaleta, teclados, harmonium, violino, flugelhorn, bateria, baixo e guitarras modificadas e tratadas. O agora power trio Fóssil é uma das bandas mais reconhecidas da nova cena instrumental brasileira, e explora sons densos trabalhando a ambiência, as dinâmicas e o improviso. O Labirinto assume a influência de trilhas de cinema e artistas experimentais (do pós-punk e pós-rock ao erudito), e agrega instrumentos como o violoncelo, o violino e a eletrônica à instrumentação usual. Finalmente, o mineiro Constantina incorpora às guitarras pós-roqueiras interferências eletrônicas, num contexto mais minimalista.

Quanto aos artistas visuais envolvidos (Alice Freire, André Firmiano, Andrea Kulpas, Binho Barreto, Bruna Canepa, Bruno Nunes, Bruno Oliveira, Denise Alba, Felipe Diaz, George Frizzo, João Ruas, João XXIII, Joaquim Prado, Lucas Biazon, Marcos Brias, Marina Moura, Mario Ladeira, Nelson Luiz, Pedro Lucena, Renata de Bonis, Ricardo Akn e Thais Beltrame.), seria difícil fazer algum destaque – é grande a força expressiva de todos eles, dentro do formato próximo de um postal.

DIS#1 é a porta de entrada em um mundo criativo e generoso, delicado e assombroso, divertido e intrigante.

domingo, 15 de março de 2009

ruído/mm no mondo bacana


Texto por Bianca Sobieray e fotos de Diego CWB e Fernado Souza (show)

Como muitos pedais, nuances sonoras e sete músicos curitibanos podem ir bem além do rótulo de post-rock

O número de pedais poderia surpreender algum espectador desavisado que olhasse o palco com todos aqueles aparatos, sem saber o que rolaria na noite daquela quinta-feira 22 de janeiro, em mais uma edição da James Sessions, no James Bar. Além dos pedais, o conjunto de amplificadores, guitarras e baixo, fariam qualquer aficionado por música literalmente babar. Era constante a curiosidade das pessoas, que iam até o palco analisar todo aquele equipamento. Sim, quem estava para logo mais entrar em cena era o septeto ruído/mm (leia-se Ruído por Milímetro).

Atualmente a banda desponta como um dos expoentes do segmento post-rock nacional. "Não temos nenhum problema com esse ‘rótulo’ musical, mas acho que já ultrapassamos a linha post-rock. Somos outra coisa, mais indecifrável”, explica em meio a algumas risadas, o baterista Giva.

Avaliando o crescimento do cenário nacional, o guitarrista Pill afirma que “ainda é pequeno o número de bandas instrumentais de post-rock no país, mas do ano passado para cá percebemos um crescimento”. No caso do ruído, o post-rock foi apenas um impulso para o som. Agora já é uma vertente do estilo, certamente muito mais elaborado e bem feito.

Com cinco anos de carreira, o ruído/mm sofreu algumas mudanças na formação. Foram três bateristas em sua trajetória e algumas novas "aquisições", entre elas o ex-baixista do Terminal Guadalupe, Rubens K, e o guitarrista Rafael Martins, também do Wandula. "Rafael trouxe a onda new wave para o ruído e o Rubens agregou muitos bons sons para a banda”, diz o guitarrista e acordeonista John (ou João Ninguém, como se auto-intitula).

(Re)Lançamentos

O grupo, que já tinha gravado dois EPs, lançou, no ano passado, o primeiro álbum, A Praia, pelo selo Open Field/Peligro. O trabalho foi recebido muito bem pelos críticos de plantão, recheando-o de boas críticas e sendo citado, no site Scream & Yell, como uma das melhores capas de 2008. “O disco demorou três anos para ficar pronto. Fizemos tudo por nós mesmos, sem nenhum produtor. Mostramos pro pessoal do selo e então lançamos”, conta o guitarrista André Ramiro.

Ainda em 2008, a banda participou de uma coletânea lançada pela Dissenso – uma espécie de conglomerado de música alternativa e experimental que une loja, selo musical, estúdio e produtora, além de dar uma base de ideias criativas para as bandas do segmento. A primeira coletânea Dissenso, denominada DIS I, uniu quatro bandas nacionais de música experimental (ruído/mm, Labirinto, Fossil e Constantina) e um grupo de jovens artistas gráficos e plásticos, além de fotógrafos. Resultado: criou-se uma sintonia entre imagem e som, que resultou em uma revista-CD suntuosa.

Outro detalhe interessante sobre esses curitibanos é que em breve os dois trabalhos antigos serão reeditados, ganharão algumas faixas a mais e serão disponibilizados aqui pelo Mondo Bacana para download. “Essa é uma ideia antiga e muita gente estava pedindo para nós músicas e discos antigos. Deve sair no próximo semestre”, conta Ramiro.

Estalidos e nuances
Quando o ruído/mm começou a tocar, o que ainda se ouvia eram os ruídos vindos da platéia. Nos primeiros trinta segundos de "Sanfona", porém, pequenos eram os rumores vindos dos espectadores, ainda um pouco atônitos pelo show que começara. Na segunda canção, "Mariachis", o guitarrista Pil dominava o baixo e fazia alguns sons com a voz que pareciam vindos de um lugar muito distante. E finada a terceira música, Rubens K entrava em ação e Ramiro - então no baixo de "Praieira", assumia a quarta guitarra, formando, assim, a versão completa da banda, inclusive com o tecladista Liblik, preenchendo todos os milímetros do palco.

Em alguns momentos, os timbres da banda remetiam ao soar do vento e alguns assovios deixavam claro que se tratava de uma praia deserta. Era apenas um exemplo de que a quantidade de pedais fazia a diferença. Durante o show, havia momentos em que a ambientação era pesada e distorcida. No momento posterior, com um clicar de pés dos integrantes, tornava-se leve e harmônica, gerando, inclusive, aplausos do público no meio da música. Aliás, os integrantes tinham combinado que entre as sete canções apresentadas no James não haveria pausas, mas foi impossível conter os aplausos, principalmente entre uma e outra faixa.

Já na sexta do set, curiosamente intitulada “Baixo e Guitarra” e uma das obras mais clássicas da banda, o som começava um pouco mais dançante, despertando algum balançar de pernas no público. Mas no geral, o ruído/mm é uma banda apenas para se escutar e apreciar as nuances durante as músicas. Com a saideira “Petit Pavê”, isso voltava a acontecer. Então fechava-se mais uma edição da James Sessions com o público, depois do último acorde, respirando fundo e voltando para a realidade....