terça-feira, 21 de outubro de 2014

Gazeta do Povo - Caderno G - Veenstra e ruído: um dia de sorte no inferno (por Cristiano Castilho)



"“Essa é a sauna mais rock de Curitiba!”, gritou o eterno punk J.R Ferreira na noite do último sábado, no 92 Graus, o Cavern Club da cidade. Em magnitude, o calor só tinha concorrência com a fila do lado de fora. Cena rara: o apinhado de gente estava prestes a dobrar a esquina. Por isso, ainda há quem chore as pitangas por não ter acompanhado a noite barulhenta do dia 18 de outubro de 2014. Mas, o que aconteceu ali, afinal?

Aconteceu que o Veenstra mostrou-se mais à vontade do que em shows anteriores. Ao conseguir de fato costurar uma música em outra, a banda criou uma linha narrativa ultrabarulhenta e ao mesmo tempo calorosa, passional. Esse sentimento profundo, e ainda não totalmente decifrado causado por suas músicas, é o grande trunfo do projeto de Lorenzo Molossi. É como se a certa altura do show (em “The Hollow Realm?”) Slowdive tivesse dado um esbarrão em alguma banda de pós-rock mergulhada em ira.

Aconteceu também que o ruído/mm demonstrou outra vez que a cada show promove uma experiência. Se no Sesc da Esquina foram um tanto frios e metódicos – porém quase sublimes –, no 92 emularam índios em meio a um ritual xamânico. Suscitaram gritos espontâneos de uma plateia entregue. Desfilaram músicas de seu novo álbum, que cresce a cada audição. Foram venerados pelo próprio garoto Lorenzo, que comemorou como criança o fato de a melhor banda de Curitiba ter tocado uma música “com a sua guitarra vermelha.” Autorreferência como sinônimo de conquista e como exemplo: também aconteceu. O que não aconteceu foi o repórter assistir ao show da Audac, devido ao calor vesuviano – e à chegada do horário de verão."

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