sábado, 27 de setembro de 2014

Gazeta do Povo - Caderno G - ruído/mm retorna em lampejos ordenados (por Rafael Rodrigues Costa)


"Com 11 anos da estrada e três álbuns na discografia, a banda ruído/mm percorre com passos mais ordenados o caminho de liberdade criativa que é uma das marcas do rock instrumental que faz, tão barulhento e explosivo quanto silencioso e contemplativo. O quarto disco do grupo curitibano, Rasura, que será lançado hoje, no Sesc da Esquina, registra este momento de maior sentido e menos fragmentação em suas elaboradas faixas instrumentais.

Mas nada disso tem a ver com amadurecer e “domar” as centelhas criativas do ruído/mm, conforme explica o guitarrista Ricardo Pill. “Não acho que sejamos uma banda velha, no sentido oposto ao frescor”, defende-se o músico. “Foi uma decisão estética nossa”, explica.

De acordo com Pill, a banda apostou em músicas mais coesas para contrapor à fragmentação presente em trabalhos anteriores, em que as composições guardavam rupturas radicais de rítmica e harmonia em espaços curtos. “Procuramos trabalhar esse elemento da ruptura de outra forma, trabalhando mais a melodia, a sintonia entre os timbres”, explica o músico, que reconhece a opção por guitarras mais pesadas neste trabalho. “A maioria das músicas têm uma estrutura que faz mais sentido como um todo”, avalia.

O trabalho de composição foi favorecido pela consolidação da formação do ruído/mm que gravou o disco anterior, Introdução à Cortina do Sótão (2011) —Pill, Alexandre Liblik (piano, teclado e escaleta), André Ramiro (guitarra), Giovani Farina (bateria) e Rafael Panke (baixo). “Não é que seja uma formação química, mágica, mas é uma formação que se estabeleceu, e que tem um equilíbrio”, explica Pill. “Isso ajuda a trabalharmos mais focados na composição. Quando há mudanças de integrantes, temos que reensaiar, reorganizar. Dá muito trabalho”, explica.

Não será o caso da volta de Felipe Ayres (guitarra e efeitos eletrônicos) à banda. O músico já havia acertado seu retorno definitivo ao ruído/mm, e chega a tempo de permitir à banda reproduzir ao vivo com mais fidelidade as músicas de Rasura, trabalho em que a soma de camadas e camadas de elementos aos arranjos fez parte do método de composição. É daí, por sinal, que vem o nome do disco. Cada um com seus computadores devidamente equipados com programas de gravação, os integrantes reescreveram, sobrepuseram e “rasuraram” inúmeros arranjos. “Nunca trabalhamos com tanta pré-produção”, conta Pill. “Nos anteriores, fazíamos tudo juntos, ao vivo, então, geralmente, cada um adicionava as partes que podia tocar. Neste, às vezes há três guitarras gravadas pelo Ramiro, por exemplo. Até por isso, foi perfeita a volta do Ayres. Precisamos de seis pessoas para executar esse disco.”

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