sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Bem Paraná - Curitibanos do ruído/mm voltam com tudo - (por Ivan Santos)


"Três anos depois do aclamado Introdução à Cortina do Sótão, a banda curitibana ruído/mm (leia-se ruído por milímetro, escreve-se em minúsculas mesmo) está de volta à cena com o lançamento de seu novo disco, Rasura, que promete consolidar o grupo como um dos mais importantes nomes do rock alternativo brasileiro. Se o disco anterior levou a banda a se apresentar em palcos e festivais de todo o País, os planos agora são alçar novos vôos, incluindo shows fora do Brasil.

Criado em 2003, em Curitiba, o ruído/mm é hoje um dos principais representantes da cena post rock brasileira - subgênero usado para abarcar artistas que, a partir dos anos 90, passaram a unir elementos do rock alternativo com elementos do jazz, da música eletrônica e do rock progressivo — do space rock e ao Krautrock — e tem entre os seus principais representantes mundiais bandas como Mogwai e Sigor Rós.

Rasura é o primeiro disco do grupo gravado com patrocínio — resultado de um projeto de mecenato aprovado pela Fundação Cultural de Curitiba, com incentivo da Caixa Econômica Federal. São oito faixas que passeiam por climas esparsos, distorções de guitarra milimetricamente esculpidas em progressões melódicas que convidam o ouvinte à introspecção. Gravado e mixado no estúdio ClickAudioworks( www.click audioworks.com.br), em Curitiba, no primeiro semestre de 2014, o disco foi produzido pelo baixista da própria banda, Rafael Panke, e masterizado pelo lendário produtor norte-americano Mark Kramer, que trabalhou com bandas fundamentais do cenário alternativo mundial, como Galaxie 500, Butthole Surfers e Urge Overkill (com dedo na canção Girl, You’ll Be a Woman Soon, famosa por ter sido incluída na trilha sonora do filme Pulp Fiction, de Quentin Tarantino.



Em entrevista ao Bem Paraná, o guitarrista André Ramiro fala sobre o processo de gravação e produção do disco, que será lançado oficialmente em show neste sábado, em Curitiba, no Sesc da Esquina.

Antes do Introdução à Cortina... o ruido/mm passou por uma série de mudanças de formação. Agora vocês têm um novo integrante, Felipe Ayres, mas no mais a formação parece ter “estabilizado”. No que essa “estabilização” se refletiu no novo disco?
André Ramiro — A estabilização é uma parte do processo. Vários excelentes músicos tocaram no ruído e sempre deixaram suas marcas. Tocaram conosco Feliz Luiz, João XXIII, Rafael Martins, Rubens K, Eduardo Custódio e acredito que ainda iremos mudar muito. O ruído hoje é mais uma orquestra de malucos do que uma banda. Se um sai, outro entra. A essência se mantém de variadas formas. O Ayres é um grande músico e uma baita soma no processo. Infelizmente não deu tempo dele gravar conosco, mas nos palcos dá pra sentir a diferença.

Minha primeira impressão é de que o novo disco tá mais “direto”, mais cru. É isso mesmo?
Ramiro — Posso dizer que o novo álbum tem influências de tudo o que fizemos. Começamos dentro de um ambiente cinza, abrimos as guitarras com os índios eletrônicos, passeamos pela praia, subimos ao sótão e agora estamos rasurando tudo da melhor forma possível.

É o primeiro disco que vocês gravam com patrocínio. No que esse suporte financeiro mudou o processo e o resultado final?
Ramiro — Qualquer forma de ajuda de custo é válida, seja para um festival, para uma peça ou para um disco. Garantimos mais tempo em estúdio, preensagem de CDs e pela primeira vez tivemos tempo para um disco propriamente dito, com mais de 50 min. Muitos artistas independentes tem a possibilidade de conseguir isso e devem sim procurar as diversas oportunidades que existem: mecenato, ruanet, sescs entre tantos outros editais.

O Introdução... teve grande repercussão na crítica especializada, sendo muito elogiado e levando a banda a se apresentar em festivais por todo o País. Qual a expectativa de vocês com o novo?
Ramiro — Introdução nos levou a muitos lugares legais, conhecemos pessoas do Brasil todo. Foi um grande projeto que fechou um ciclo da banda. Agora queremos continuar na mesma onda, tocando em festivais, conhecendo pessoas legais e abrindo as portas pro ruído/mm.

A cena independente brasileira caminha a duras penas. Vocês fazem rock instrumental, o que é ainda mais específico. Há público pra isso no Brasil?
Ramiro — Existe público para todos os estilos. A música instrumental está a passos largos, vide show de bandas internacionais no Brasil e selos como sinewave lançando discos todos os meses. O que muda são as vilas. Por exemplo, Curitiba hoje não tem tantos shows como há 5 anos atrás. Estamos numa baixa de produtividade. Parece que SP também, mas outros centros crescem durante o marasmo dos outros. Trata-se de uma equação que depende da banda, do público, dos produtores e das casas de show.

Vocês já tiveram também boa repercussão fora do País, inclusive com resenhas elogiosas no Pitchfork e comentários de David Byrne. Algum plano de tocar no exterior?
Ramiro — Sim, temos planos pro próximo ano. Estamos trabalhando pra isso.

Morar no RJ mudou de alguma forma sua percepção sobre a cena musical de Curitiba? Como a vê de longe hoje?
Ramiro — Curitiba possui todos os ingredientes para ser a capital do rock. Depende única e exclusivamente dela. Bandas boas nós temos, mas já disse isso várias vezes: falta produção. Existe uma lacuna entre artista e público que deve ser preenchida. E não apenas com o cenário local. Show de bandas gringas movimentam o mercado como um todo e não temos shows bons na cidade há muito tempo."

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