terça-feira, 24 de março de 2009

Coletânea Dis # 1


RELEASE escrito por Alex Antunes (Rolling Stone)

DIS#1 é o primeiro de uma série – uma publicação que reúne diversos artistas na área das artes plásticas, gráficas e fotografia a bandas de música contemporânea (neste volume, Ruído/mm de Curitiba, Constantina de Belo Horizonte, Fóssil de Fortaleza e Labirinto de São Paulo). Mas esse lindo CD-livrinho é mais intrigante do que isso – ele é um sintoma de algo maior e importante.

Há uma nova sensibilidade artística no ar. Pode parecer algo pomposo ou exagerado de se dizer, mas uma simples observação na produção de (certos) jovens artistas, alguns deles presentes neste DIS#1, mostra a retomada de uma inteligência e um vigor pop que não se via desde o final dos anos 70. E “pop” aí não vai no sentido vulgar de “comercial”, mas naquele sentido original dos anos 60: a pop art como uma interface entre a produção cultural voltada para o consumo de massa e a própria crítica desse consumo; Andy Warhol e os Beatles seriam os exemplos mais notáveis desse jogo duplo.

Ao longo dos anos 70, a ruptura da dicotomia entre comercial e experimental – ou “alta” e “baixa” cultura – foi apropriada por músicos como o Roxy Music e o Kraftwerk. Nos 80, a geração pós-graffiti de Basquiat e Keith Haring já vivia essa saudável “indiferenciação” nas artes visuais, e é nesse ambiente que vivemos agora.

A street art, com seus pôsteres e adesivos, a toy art, os quadrinhos, os livros de arte e o pós-rock são exatamente a especialidade da casa Dissenso, misto de loja, selo musical, estúdio e núcleo propulsor de idéias. Já trabalhando em parceria com artistas de várias linguagens, produzindo desde impressões em silk screen à gravações sonoras e encontros festivos, a Dissenso está se transformando num pólo de convergência e realização.

Eles escolheram um mote para os músicos e ilustradores participantes desta edição – o termo “etéreo”. É amplo o suficiente para permitir diferentes viagens, mas ao mesmo tempo sugere uma certa unidade conceitual para o projeto. As quatro bandas, nesta edição, são instrumentais. Ou seja, as vozes, quando aparecem, fazem apenas vocalizações dentro dos arranjos. Mais ásperos no caso do Fóssil, mais abstratos no do Constantina, mais climáticos no de Ruído/mm e Labirinto, mas sempre muito envolventes, expandindo a linguagem do rock para universos inusitados.

O sexteto Ruído/mm (ruído por milímetro) se define como "uma teia de sonoridades exploradas à exaustão", utilizando instrumentos como acordeon, escaleta, teclados, harmonium, violino, flugelhorn, bateria, baixo e guitarras modificadas e tratadas. O agora power trio Fóssil é uma das bandas mais reconhecidas da nova cena instrumental brasileira, e explora sons densos trabalhando a ambiência, as dinâmicas e o improviso. O Labirinto assume a influência de trilhas de cinema e artistas experimentais (do pós-punk e pós-rock ao erudito), e agrega instrumentos como o violoncelo, o violino e a eletrônica à instrumentação usual. Finalmente, o mineiro Constantina incorpora às guitarras pós-roqueiras interferências eletrônicas, num contexto mais minimalista.

Quanto aos artistas visuais envolvidos (Alice Freire, André Firmiano, Andrea Kulpas, Binho Barreto, Bruna Canepa, Bruno Nunes, Bruno Oliveira, Denise Alba, Felipe Diaz, George Frizzo, João Ruas, João XXIII, Joaquim Prado, Lucas Biazon, Marcos Brias, Marina Moura, Mario Ladeira, Nelson Luiz, Pedro Lucena, Renata de Bonis, Ricardo Akn e Thais Beltrame.), seria difícil fazer algum destaque – é grande a força expressiva de todos eles, dentro do formato próximo de um postal.

DIS#1 é a porta de entrada em um mundo criativo e generoso, delicado e assombroso, divertido e intrigante.

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